quinta-feira, 31 de março de 2011

O medo da morte

É muito ingrato viver nesse mundo . Chego quase aos vinte anos sem que as melhores memórias de minha existência ultrapassem vinte segundos de pensamentos. O que implica dizer que mesmo que eu viva quarenta anos não chegarei a um minuto de boas lembranças, precisarei de seis décadas para atingir essa meta, subtende-se. Vivo aqui , nessa terra de abutres, com a pergunta que nove a cada dez pessoas se fazem: ”Vivo o hoje , ou preservo o meu amanhã” ? Em outras palavras: ”Vivo cem anos à dez , ou dez anos à cem”?  Esse questionamento surge e perdura em nossos pensamentos por um único motivo: o medo da morte . Claro , quem não tem medo de alguma coisa que não se sabe quando vai acontecer ,  ou quando não se sabe o que nos aguarda depois desse evento ? Eduardo Gianetti debate em sua primorosa obra O valor do amanhã da seguinte forma sobre o assunto : ” O que nos aguarda , se é que algo humanamente inteligível , do lado de lá, isto é , do outro lado dessa misteriosa trama para o qual fomos chamados sem consultoria prévia e da qual seremos, em hora incerta, compelidos a sair ?” Ora, caro amigo , não se sabe, e só a lembrança de não viver mais nos causa arrepios , ainda aumentadamente quando Freud nos apavora dizendo : ”A morte é o alvo da vida”. Verdade! Tudo o que se vive tem de morrer um dia , mas diga-me alguém , ou até mesmo alguma coisa que está vivo e que aceita a ideia de ter seu corpo devorado pelos germes da Terra ? Certo mesmo é que se pudéssemos ouvir qualquer frase de uma pessoa que soubesse o dia que iria morrer , todas diriam a pavorosa frase : a vida é curta. Não importa quantos anos se tenha , se oito ou oitenta, a vida é curta a todos. Tanto para os que vivem de forma frenética , quanto os que vivem se guardando para aproveitar depois. Sente-se uma sede insaciável de viver. Então , por que não ter medo da morte? Diga-me se puder.

Arthur Gondinho de Alencar